Sobre o arquétipo da Mulher Selvagem
Para reflectir, reconhecer, integrar, silenciar, gritar, permanecer, sentir, virar do avesso, saltar, brincar, rebolar, levantar, sacudir a poeira e voltar à estrada – isto a que chamamos vida -, que não é mais do que a pausa deste continuum que é a eternidade, sempre abanando a cauda.
Talvez seja um belo dia para começar ou recomeçar a cuida de nós como um todo. Afinal é segunda-feira.
Mas, Eva, o que é que a segunda-feira tem a ver com este tema?
Talvez nada, talvez tudo! Mas vejamos, perdemos a ligação com o antigo significado dos dias da semana, pois os nossos antepassados faziam corresponder um deus, uma entidade, um planeta a cada dia da semana.
Actualmente, em muitas línguas, ainda é possível percepcionar essa relação próxima com os deuses, mas na nossa língua, desvaneceu-se completamente essa ideia.
Segunda-feira é na verdade o dia da Lua. Em inglês, por exemplo, Monday (Segunda-feira), permite fazer essa relação de forma mais rápida e intuitiva (Moon - Lua / day - dia).
Ora a Lua, tem vários simbolismos associados, entre os quais, está uma relação directa com o arquétipo da Mulher: Donzela - Mãe - Avó, portanto com a Mulher Selvagem que nos habita.
Esta tríade foi desvirtuada ao longo de séculos e está mais do que nunca de tal forma enraizada em nós a crença de que somos insignificantes, inconstantes, mal-humoradas, e assim por diante, que é difícil convencer uma mulher do seu valor intrínseco.
Eu que o diga, em vista do trabalho que realizo e desenvolvo, sobretudo com mulheres, através de uma abordagem numerológica.
De acordo com os dados apresentados num mapa numerológico, saltam à vista os desafios inerentes ao potencial que cada um poderá desenvolver, de modo a que o possa aplicar a tudo a que se dedicar com afinco, seja num nível pessoal, material, profissional, espiritual, etc.
Não raras vezes, a consulta acaba por se tornar num espaço sagrado, onde cada mulher se permite encarar a sua dor escondida sob várias camadas de pêlo. E lá bem no fundo de uma forte e polida carapaça, está um animal selvagem, aninhado, amedrontado, mas sempre arreganhando os dentes, pois desconfia de quem o tenta ajudar a sair daquela caverna escura para a luz.
É preciso criar uma estrutura fiável e forte o suficiente, para que ele possa assomar à entrada da caverna e verifique por si mesmo que é seguro sair.
Acreditem, já assisti a vários partos, bastante difíceis, mas que culminam em lágrimas de alegria e verdadeira compreensão do sucedido. São diferentes emoções e sentimentos que afloram durante este processo duro, avassalador, mas tão, tão enriquecedor, para ambas as partes, diga-se.
Mas era “apenas” uma consulta de Numerologia!
Sim, na verdade sim. Mas o que cabe dentro de um “apenas” é como uma galáxia cheia de estrelas, que se desdobram em mundos dentro de mundos.
Voltando à Lua e à nossa tríade, isto é, aos seus três aspectos ou faces: Donzela – Mãe – Avó, analisemos, ainda que sumariamente, as nossas relações com cada uma delas:
- A nossa relação com a Criança Interior, que nos devolve as dores emocionais, as frustrações, os medos, os bloqueios, as contrariedades e assim por diante e que precisa de ser vista, sentida, cuidada, nutrida, amada, até que se torne uma aliada forte e poderosa;
- A nossa relação com a Mãe (biológica, de coração, divina...) que nos revela a cada momento o vazio emocional deixado por mães que não souberam, também elas, cuidar de si, e nessa medida, não souberam cuidar de nós. Reconheçamos aqui que fizeram o que podiam (com os recursos internos e externos que tinham ao seu dispor) o melhor que souberam.
Esta relação tóxica, precisa ser purificada, passo a passo, até aprendermos a ser Mães de nós mesmas, tomando a responsabilidade inteira, pelas nossas próprias vidas, deixando de depender dos outros, como crianças famintas de alimentos e afectos;
- A nossa relação com as nossas Avós que retrata a nossa incapacidade de aceitar e lidar com o processo natural de declínio e envelhecimento, tão naturais, como necessários nesta outra tríade Nascimento – Vida – Morte. É tempo de acordar a nossa Sábia, Conselheira, Curandeira, Xamã interna para que as feridas possam cicatrizar e descansar.
Se quisermos realmente curar as nossas feridas emocionais e outras, teremos que começar por nós mesmas, enfrentando a sombra, integrando-a para depois corrermos juntas pelo mato, saltando sobre os riachos, refrescando a nossa pele nas águas cristalinas dos rios, saciando a sede de saber, espreguiçando os corpos sob o sol da manhã, com a calma própria de quem viveu uma vida preenchida e sabe que a sua semente encontrará terreno fértil para seguir produzindo frutos, pelas gerações seguintes.
A Lua pede-nos que confiemos mais na intuição do que na razão e o dia é governado pelo número 6, que nos incita a harmonizar os pares de opostos e nos impele a cuidar, colar e nutrir todas os pedaços que se encontram estilhaçados em nós.
Se não sabes por onde começar essa cura, porque não experimentar consultar os Números comigo?
Não perdes nada em entrar em contacto com este universo tão rico de simbolismos e sempre podes regressar à tua forma anterior de estar, ser e sentir… ou talvez não!...
Eva Veigas
Numeróloga
"A Mulher Selvagem corresponde à parte saudável de todas as mulheres. Sem ela, a psicologia feminina deixa de fazer sentido. Esta mulher selvagem é a mulher prototípica... independentemente da cultura, da época em que viva ou da política que siga, ela não muda. Os seus ciclos mudam, as suas representações simbólicas mudam, mas, na essência, ela não muda. Ela é o que é, e é um ser inteiro.
Ela estabelece ligações através das mulheres. Se as mulheres estão reprimidas, ela luta para as puxar para cima. Se são livres, ela é livre. Felizmente, não importa quantas vezes é pisada. Outras tantas se levantará. Não importa quantas vezes a proíbam, a subjuguem, a reprimam, a enfraqueçam, a torturem, quantas vezes a façam passar por insegura, perigosa, louca e outros impropérios, ela volta a emergir nas mulheres, de tal modo que até a mulher mais calma, ou a mais contida, a manterá num lugar secreto de si mesma. Até a mulher mais reprimida tem uma vida secreta, com pensamentos e sentimentos secretos, exuberantes e selvagens, ou seja, naturais. Mesmo a mulher mais agrilhoada conserva o lugar do seu eu selvagem porque ela sabe, intuitivamente, que um dia haverá uma escapatória, uma abertura, uma oportunidade em que ela aproveitará para fugir."
Clarissa Pinkola Estés, in Mulheres Que Correm Com Os Lobos