Agosto 2014 - Regente 6
“A amizade nunca é espalhafatosa. As demonstrações de afeto só provam a instabilidade dos sentimentos, a inquietação, o medo de perder o que se ama.”
Sabedoria Ameríndia
O Senhor da Beleza, das Artes e do Amor sucede (quase que por consequência natural, depois de uma metamorfose profunda em que o Ser foi literalmente desprovido da sua identidade a fim de se poder reconstruir e renascer) ao 5, o Senhor da Liberdade e das Mudanças.
Assim, perante uma nova forma de Ser e de Estar encontramo-nos agora num patamar onde nos é possível distinguir facilmente a beleza das coisas, das pessoas e dos lugares.
Sentimos a beleza do pôr-do-sol, o aroma de uma flor, assistimos com o olhar cheio de ternura às mais variadas manifestações da natureza e passamos a ver e a detetar beleza em tudo o que nos rodeia.
Na verdade, a beleza esteve sempre lá, éramos nós que não a conseguíamos ver, enredados que estávamos nas teias do egoísmo e da ilusão própria de quem trilha o caminho dos homens.
Sob esta nova e vivificante frequência do 6 estaremos, a priori, preparados para enfrentar novos e cada vez mais estimulantes desafios.
Desta vez, seremos confrontados com o nosso egoísmo e com os nossos enganos acerca do que é amar e ser amado.
O 6 coloca em evidência, como já se disse, a beleza e o amor às artes, mas também, e acima de tudo, o amor que sentimos e desenvolvemos pelas outras pessoas.
Porém, por causa deste amor surgem todo o tipo de equívocos causadores, em grande parte, para não dizer na totalidade, do sofrimento da humanidade.
É que os seres humanos confundem amor com posse e a partir daí está arruinada, à partida, a possibilidade de mantermos relacionamentos saudáveis uns com os outros.
Muitos de nós, a maioria talvez, deseja ser amado a todo o custo, esquecendo-se que para receber tem que se dar. Mas em verdade, ninguém, sujeito às Leis Universais, recebe seja o que for, sem que antes o tenha dado.
Ora esta simples Lei, porque tudo no Universo é simples e descomplicado, atrapalha a vida dos comuns mortais que desejam receber sem dar nada em troca.
E eis que surge novo equívoco: é que há pessoas que se queixam de dar, dar, dar e nunca receber…(?). Como é isto possível? Acaso as Leis do Universo só funcionam para alguns? Claro que não!
A questão é mais profunda, e este mês vai convidar-nos a encontrar as reais motivações dessa doação que afirmamos ser sincera que nos exige sacrifícios enormes que pretendemos ver reconhecidos a cada momento, adotando uma postura de cobrança do outro. Cobrança de atenção, cobrança de carinho, enfim, chega-se muitas vezes ao ponto de mendigar por amor.
Mendigar por amor…
O Amor é abundância, é infinito, é imenso, é arrebatador, amor é o que irradiamos para fora do corpo físico quando nos sentimos pertença deste Universo magnífico.
Como é possível sermos mendigos quando o amor jorra a partir do nosso próprio centro?
Não daremos apenas para sermos aceites? Será que essa entrega não será unicamente para que o outro veja quão boazinha ou bonzinho, eu sou? Como eu me esforço, sacrificando a minha própria vontade para que o outro reconheça em mim semelhante altruísmo? Não será que muitos de nós necessitam de um reconhecimento constante para fazerem algo na vida, como se esse mesmo reconhecimento fosse o alimento da sua própria motivação?
Então, onde está o amor, nesses casos?
Amar é doar-se a cada momento, é entregar-se por inteiro sem medo de julgamentos e sem necessidade de reconhecimentos. É dar-se sempre mais e mais sem reclamar e sem exigir do outro nada em troca (mas afinal, o outro pediu alguma coisa?). Não! Ele limitou-se a receber. E saber receber também é uma forma de amar. Lembrem-se que há muitos entre nós que não sabem receber, refugiando-se atrás de uma falsa modéstia, quando, na verdade, escondem sob as suas carapaças verdadeiros ogres à espera de serem alimentados pelos outros.
Portanto este será um mês difícil sob este ponto de vista, pois ele exporá sem misericórdia todos os egoísmos, manias e ciúmes que se ocultam por detrás das máscaras da bondade, da generosidade e do amor.
Aproveitemos então para refletir acerca destes comportamentos distorcidos e identifiquemos em nós as carências, o medo de não sermos aceites pelo outro, na família, no grupo, na comunidade, na escola, no trabalho, nas redes sociais, onde quer que nos relacionemos com os outros de alguma forma.
Certamente ficará espantado ao descobrir que o que o movia não era o amor pelo outro, mas sim o medo de não ser aceite por ele.